Oficina de Documentário: “Em nome de Cruz e Sousa”

05/04/2023 10:59

Proposta de atividade

A equipe do filme Em nome de Cruz e Sousa oferecerá uma OFICINA para partilhar e debater o processo de concepção e realização do documentário.

Público-alvo

A atividade é destinada ao público em geral, podendo atrair tanto pesquisadores e estudantes das áreas de História, Museologia, Jornalismo e Cinema, bem como pessoas interessadas pela presença negra no estado de Santa Catarina.

Apresentação

A presença negra em Santa Catarina é marcada pela invisibilidade, apesar de pretos e pardos representarem, hoje, cerca de 15% da população do Estado. O patrimônio cultural – seja material ou imaterial – não reconhece a herança africana e valoriza apenas a luso-brasileira. A presença de africanos e afrodescendentes, historicamente, nunca foi desprezível. O desenvolvimento econômico de Santa Catarina, entre a segunda metade do século XVIII e o final do século XIX esteve atrelado à atividade baleeira e à produção de alimentos, sobretudo de farinha de mandioca. Os trabalhadores e trabalhadoras eram Angolas, Benguelas, Moçambiques e Minas, e seus filhos e netos, em regime de escravidão, ou já libertos, representavam um quarto da população da província. O que diferencia Santa Catarina de outras regiões do Brasil (e a aproxima do Sul e dos países vizinhos como Uruguai e Argentina) é a adesão aos projetos de imigração e à política de branqueamento da população, apoiadas no racismo científico, que dificultaram o acesso da população afrodescendente aos direitos associados à liberdade e à cidadania.

No sul do Brasil, homens e mulheres negros criaram associações cívicas e recreativas que promovessem sua união, espaços que serviram para a luta antirracista. O Centro Cívico e Recreativo José Boiteux, de Florianópolis, foi uma destas associações. Sua atuação associava a reverência à memória do escritor negro João da Cruz e Sousa aos embates por visibilidade e reconhecimento dos intelectuais negros catarinenses nas primeiras décadas do século XX. O Centro Cívico contava entre seus sócios pessoas de diversas ocupações e níveis de escolaridade preocupadas com o combate à discriminação racial e a afirmação da igualdade de capacidade e direitos dos homens negros. Mais tarde, rebatizado, o Centro Cívico Cruz e Sousa teve sede no centro de Florianópolis e gozou de boas relações com os governantes na Primeira República durante mais de sete anos de existência. Foi por iniciativa de seus membros que o poeta João da Cruz e Sousa, que nasceu e cresceu na cidade, foi homenageado com a inauguração de um busto no aniversário de 25 anos de seu falecimento, em 1923.

O curta metragem Em nome de Cruz e Sousa situa o associativismo negro do pós-abolição relacionando-o à história da presença negra e das transformações econômicas da Ilha de Santa Catarina, que vivia um período de reformas urbanas e que naquela década ganharia a primeira ponte de ligação com o continente, marco da modernização da cidade.

O documentário foi realizado com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema – edital público de fomento e promoção às atividades cinematográficas no estado de Santa Catarina.

A produção é baseada em extensa pesquisa histórica e iconográfica em arquivos públicos – Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Casa de Memória de Florianópolis, Instituto Carl Hoepcke, Biblioteca Pública de Santa Catarina, Obras Raras da Biblioteca Universitária/UFSC, Arquivo Nacional e Fundação Casa Rui Barbosa – bem como em diversos acervos particulares.

Além de dialogar com a recente pesquisa na área da história do pós-abolição, o roteiro lida com o tema do patrimônio cultural, a partir das comemorações, homenagens e monumentalização de personagens históricos na Primeira República, desafiando os silêncios da história e da memória oficiais.

A atividade consistirá na exibição do documentário nos primeiros 30 minutos, seguida de exposições detalhadas das etapas criativas e técnicas do trabalho – desde a pesquisa e concepção do roteiro, até produção, montagem e finalização – tratando dos principais desafios vivenciados ao longo da realização da obra.

 

Currículos dos ministrantes da oficina

JOSÉ RAFAEL MAMIGONIAN (diretor, produtor e montador).

É graduado em Cinema (ECA-USP) e mestre em Imagem e Som (UFSCar). Produziu, dirigiu e montou o curta-metragem Seo Chico, Terra e Alma e o longa Seo Chico, um retrato, ambos derivados da imersão documental no engenho de Francisco Thomaz dos Santos. Entre seus principais trabalhos, destacam-se a montagem dos curtas metragens Artigo 25, Ano Novo, Rivellino e O Proustiano de Osasco, de Marcos Fábio Katudjian e a operação de câmera no longa Babilônia 2000 de Eduardo Coutinho. Recentemente, dedica-se a projetos e filmes de arquivo, como os médias-metragens Franklin Cascaes e Cascaes documentarista e o longa O Gênio da Boca (em produção). Coordenou também o projeto de resgate e difusão do Acervo Caruso de Folclore Catarinense.

BEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN – roteirista e pesquisadora

É doutora em História pela University of Waterloo (Canadá) e professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisa, ensina e orienta trabalhos na área da diáspora africana nas Américas há 25 anos. Publicou artigos, capítulos e livros, dentre os quais se destacam as coletâneas  História Diversa: africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina (organizada com Joseane Zimmermann Vidal, publicada pela Editora da UFSC em 2013) e Revisitar Laguna: histórias de conexões atlânticas (organizada com Thiago J. Sayão, publicada pela Editora da UFSC em 2021) e o livro Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil (Companhia das Letras, 2017). É uma das idealizadoras e coordenadoras do Programa Santa Afro Catarina de educação patrimonial sobre a presença africana em Santa Catarina. Foi co-roterista do curta de animação Caronte e a Baleia (Walter Plitt Quintin, 2000, financiado pelo MinC).

LUANA TEIXEIRA – roteirista e pesquisadora

Luana Teixeira é historiadora, professora e escritora. Autora de livros infantis, publicou: O que só as minhocas podem ver? (Edital Coco de Roda/Imprensa Oficial Graciliano Ramos, Alagoas, 2011), A Minhoca Xinoca e a Canoa de Tolda (Edital Mais Cultura Microprojetos Rio São Francisco-Funarte, 2012) e Cadê a manchinha que estava aqui? (projeto de crowdfunding, 2017). Escreveu o livro de história Negócios da escravidão em Alagoas (FAPEAL, 2017) e o paradidático Patrimônio Arqueológico e Paleontológico em Alagoas (IPHAN, 2012). Produziu o Cantinho da Arqueologia no Festival de Inverno de Garanhuns de 2011 e o projeto de distribuição gratuita da obra contemplada no edital Mais Cultura. Atuou como parecerista do Funcultura/Fundarpe e consultora do PNUD/UNESCO. Doutora em história pela Universidade Federal de Pernambuco e realizou pesquisa de pós-doutorado no projeto Afrodescendentes da região Sul: biografias, trajetórias associativas e familiares (UFPR, UFSC, UFPel). Foi professora visitante na UFAL.

Inscrições:

As vagas serão limitadas a 60 em virtude do espaço disponível. Se o número de inscritos exceder a capacidade da sala, será realizado sorteio entre os inscritos, havendo uma reserva de 20% para alunos negros, indígenas e quilombolas.

Inscrições: https://forms.gle/R5kugyTnfcNMigHH8

Haverá emissão de certificados, de 3 horas de atividade.

Serviço:

Data: 10 de abril de 2023 (segunda-feira) das 14:00 às 17:00

Local: Auditório do Bloco F do CFH/UFSC (7º Andar)

Universidade Federal de Santa Catarina – Trindade, Florianópolis-SC

Contato: atalaiafilmes@gmail.com