História

O Curso de Graduação em Cinema surgiu como forma de gerar a oportunidade para uma convergência dos estudos de cinema já presentes em diferentes departamentos de ensino e programas de pós-graduação da UFSC. Tais estudos compreendem abordagens desenvolvidas nos âmbitos de Letras, Jornalismo, Antropologia, Psicanálise, Arquitetura, Pedagogia, entre outros.

A primeira disciplina obrigatória de Cinema dentro de um curso regular foi introduzida em 1985, na Graduação de Comunicação, habilitação Jornalismo. Depois disso, a principal expansão se deu junto aos programas de pós-graduação, como ocorreu notadamente na área de Literatura, com um número expressivo de dissertações e teses defendidas tendo como centro as relações entre o texto literário e os filmes. Também o Programa de Antropologia, com sua ênfase no cinema etnográfico, teve nesse processo um papel importante.

Começou-se a cogitar acerca da possibilidade de ser criada uma graduação de cinema a partir do final dos anos 1990, quando modificou-se o panorama da formação universitária no Brasil, através da extinção do critério dos Currículos Mínimos para o funcionamento dos cursos. Tal mudança de enfoque trouxe à tona uma discussão de âmbito nacional sobre a estrutura e as atribuições da formação na área da Comunicação, à qual eram até então vinculados, entre outros, os cursos de Jornalismo e de Cinema. Na UFSC, especificamente, onde essas duas especialidades conviveram por quase duas décadas dentro da Graduação em Comunicação, esse processo de reconfiguração do campo acadêmico teve resultados bastante radicais. Num primeiro momento, o Curso existente teve seu nome encurtado para Graduação em Jornalismo, retratando o propósito de recentrar a formação dos alunos. Como desdobramento, o próprio Departamento de Comunicação foi extinto, tornando-se um Departamento de Jornalismo. Um grupo de professores, descontente com os rumos tomados pelos colegas, propôs à Direção do Centro de Comunicação e Expressão a criação de um novo Curso de Graduação. A primeira versão desse projeto comportava o surgimento de uma habilitação para o Curso de Letras, na área de Roteiro e Criação Literária, porém na época o Departamento de Letras e Literatura Vernáculas posicionou-se contrariamente à sua criação, tendo em vista seu investimento na mudança do currículo do curso já existente.

Foi em 2001, diante do interesse da nova gestão ocupando a Direção do CCE, que aquele projeto foi desengavetado e recolocado em discussão. Em maio de 2002, tendo recebido apoio formal da Pró-Reitoria de Ensino, o projeto teve sua tramitação iniciada pelos diversos Departamentos de Ensino da UFSC a ele afeitos. Porém, a recepção foi extremamente matizada, pois se em princípio não existiam oposições frontais à sua criação, os pareceres indicavam também inúmeras dificuldades de adaptação dos departamentos às novas demandas que esse curso traria. Em função dessas respostas pouco engajadas, o projeto passou por sucessivas revisões, ao longo de mais um ano de discussões, sendo reencaminhado aos Departamentos para nova apreciação. Apresentado à Reitoria em 2003 com novo feitio, em busca de apoio para sua viabilização, recebeu do Reitor a sugestão de que deveria ser pensado como uma formação autônoma em Cinema, pois haveria o interesse da Instituição em investir em novas áreas de conhecimento para a oferta de cursos de graduação. Em maio e junho de 2003 foi objeto de discussão no Conselho do CCE, sendo aprovado por escassa maioria depois de duas sessões, com um parecer favorável da relatora, e um pedido de vistas que gerou um parecer contrário.

Em outubro do mesmo ano, o projeto chegou à Câmara de Ensino, onde um parecer contrário à sua criação foi aprovado pela quase totalidade dos membros. Entretanto, um pedido de reconsideração efetivado pela Direção do CCE expôs os fatos sob nova luz, esclarecendo toda a série de mudanças pelas quais o projeto havia passado desde sua tramitação inicial, o que convenceu os membros da Câmara de Ensino de sua viabilidade, mesmo diante do precário quadro vivenciado há anos pelo ensino superior no País. Aprovado finalmente em 18 de dezembro de 2003 pela Câmara de Ensino, o novo Curso pode entrar no Concurso Vestibular realizado em 2004.

O histórico da tramitação desse projeto é exemplar em dois aspectos. Por um lado, do momento de redefinição na universidade brasileira do campo acadêmico do Cinema em particular, e da Comunicação em geral. Por outro lado, ele ilustra a enormidade do desafio de se construir o novo dentro da Universidade Pública, frente a um quadro de estagnação resultante da falta de investimentos.

Se a inserção dos estudos de cinema em diversos programas de pós-graduação forneceu uma sólida base teórica para o estabelecimento e a defesa do projeto, a significativa produção de vídeo nos diversos laboratórios da Universidade contribuiu para demonstrar a viabilidade prática dessa formação.

Soma-se a isso a experiência acumulada ao longo de dois anos e meio de existência, entre agosto de 1997 e dezembro de 1999, do Curso de Cinema e Vídeo, oferecido como atividade de Extensão Universitária, num convênio entre o Laboratório de Estudos de Comunicação e a Cinemateca Catarinense. Constituiu uma oportunidade singular para trazer para um mesmo espaço professores com larga e variada experiência acadêmica, em sua maioria com doutorados realizados em universidades norte-americanas e européias, e profissionais do audiovisual e artistas atuantes no mercado de trabalho catarinense. Esse curso, realizado no sistema de módulos, numa formação de quatro semestres letivos, serviu de base para o primeiro esboço do curso de graduação que seria proposto na seqüência. Tendo gerado dois vídeos ficcionais como projetos de conclusão, mostrou a viabilidade desse modelo de curso, na medida em que muitos dos alunos que por ele passaram conseguiram uma efetiva inserção no mercado profissional.

O surgimento do Curso de Cinema da UFSC e a procura inusitada que gerou em seu primeiro vestibular constituem resultado do amadurecimento dessa área no contexto brasileiro. Além disso, representa um desenvolvimento tornado possível graças ao impacto da mudança técnica, artística e econômica introduzida pelo vídeo digital.