Nota de Repúdio: Incêndio acometeu a Cinemateca Brasileira

02/08/2021 19:09

Nota de repúdio e de inconformismo

O Curso de Cinema da UFSC lamenta profundamente o atentado à cultura e à memória coletiva que representou o incêndio na Cinemateca Brasileira, guardiã da memória visual do Brasil dos séculos XIX, XX e XXI.

Neste dia 29 de julho de 2021, perdemos acervos fundamentais, como os de Glauber Rocha, Grande Otelo, os de Mazzaropi e de Oscarito, entre outros, além daqueles de importantes produtoras, como a Vera Cruz, o Canal 100 e o da TV Tupi. Manifesto divulgado por ex-funcionários da instituição fala também da perda do acervo da distribuidora Pandora Filmes, “matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, metragens, todos potencialmente únicos”. 

Muitos dos filmes não têm cópia – e são irrecuperáveis, portanto.

Este incêndio não foi fruto de um acidente, tendo em vista que desde 2014, com a leniência do governo federal, iniciou-se um processo de declínio administrativo, agravado no atual governo que, em 2019 anunciou que não iria renovar o contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, organização que tomava conta da Cinemateca. Mesmo sem receber salários, parte do pessoal daquela organização continuou trabalhando, até que em agosto de 2020 – um ano atrás, portanto – o secretário especial da Cultura, Mário Frias, exigiu que aqueles ex-funionários não fossem mais lá e entregassem as chaves. Neste intervalo de um ano, o acervo esteve completamente abandonado e o governo fez ouvidos moucos a todos os que alertaram para a catástrofe que estava por ocorrer, como foi o caso do grupo de ex-funcionários que vinha há meses alertando sobre a situação precária da instituição.

Mário Frias é apenas o menor peão nesta cadeia de responsabilidades: claramente o governo central é o principal culpado e deve ser responsabilizado por mais esta tragédia que se abate sobre nosso país.

Gostaríamos de ressaltar a urgência de que providências sejam tomadas para a preservação do acervo remanescente e para a continuação do funcionamento da cinemateca brasileira.

Nota aprovada pelo Colegiado do Curso de Cinema no dia 02 de agosto de 2021.